Caso Violência no namoro
// Autor: Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV)
Anabela, 16 anos. É da turma 11º B. Ricardo, 17 anos. É da turma 12ºD.
Conhecem-se desde que chegaram a este Liceu há 5 anos. Ele era amigo de um amigo dela. Numa festa começaram a falar e o namoro começou poucos dias depois. Fariam 4 anos de namoro em dezembro, poucos dias antes do Natal.
A primeira e única pessoa a saber do namoro é a irmã da Anabela, a Rita de 19 anos que estuda Geografia. Anabela ainda não contou nada aos pais porque não sabe como vão reagir. O pai é um bocado severo e não gosta muito que as filhas tenham amigos íntimos como ele lhes chama. Ela acha que a mãe desconfia, mas também não diz nada.
O Ricardo sempre teve muitas namoradas. Mesmo durante o namoro com a Anabela, teve um ou dois casos com raparigas da escola. A Anabela desconfiou mas não disse nada. O Ricardo fica muito nervoso e fala logo em terminar o namoro. Ele é assim, acha ela, porque tem um irmão que é paraplégico porque teve um acidente num dia em estava a fazer surf. O Ricardo anda sempre acompanhado por um grupo de rapazes que gostavam de gozar os mais novos. Não gostava que lhe viessem dizer que a Anabela era a preferida dos rapazes da escola.
Os pais do Ricardo preocupavam-se muito com o irmão. A ele não lhe faltava nada. Gostava de ter a Anabela sempre perto. Junto de si. E ela gostava. Quase não falava com as suas amigas. Ele gostava de estar com ela quando ela mexia no Facebook e até lhe dizia quais eram os amigos que devia aceitar. Um dia, estavam os dois sozinhos em casa da Anabela e ele pediu-lhe para fazerem sexo. Ela disse que não. Que não se sentia preparada. Ele disse-lhe que entendia, mas que achava que ela não gostava dele. Que se calhar já tinha estado com outro rapaz. E começou a gritar e a chamar-lhe nomes. Deu-lhe uma bofetada e foi-se embora. Rita estava no quarto ao lado a estudar e pareceu-lhe ouvir a discussão. À noite a irmã de Anabela percebeu que algo não estava bem e perguntou-lhe. Ela disse que eram coisas da cabeça dela.
No dia seguinte, Anabela não queria falar com Ricardo. Ele aproximou-se dela e pediu desculpa. Que era um bruto e que devia entender. Ela perdoou-lhe.
Ele prometeu que não faria outra vez aquilo e que não contasse a ninguém que não tinha importância nenhuma e o que iriam pensar as pessoas. Ela disse que não contava.
Nessa noite a Anabela saiu para jantar fora com os pais não levou o telemóvel. O Ricardo telefonou imensas vezes, mas ninguém atendia. Enviou SMS a querer saber onde estava ela. Ameaçou que terminava o namoro. Chamou-lhe todos os nomes que podia. E na última SMS avisou-a para não se aproximar dele no dia seguinte. Quando chegou a casa a Anabela e após ver aquilo tudo, sentiu medo, mas achou que era só impressão sua.
No dia seguinte quando chegou ao Liceu, o Ricardo pediu-lhe para falarem. Foram para trás de um pavilhão. Deu-lhe bofetadas e empurrou-a para o chão. Chamou-lhe muitos nomes e disse-lhe que não lhe admitia que andasse com outros rapazes. Que a matava se fosse preciso. A Anabela ficou no chão. A chorar. Apareceu Beatriz uma colega sua que lhe perguntou o que se passou. Anabela contou e disse que tinha muito medo. Telefonaram à irmã. Levaram-na para o Hospital. O Ricardo procurou a Anabela algumas vezes, mas em vão.